sábado, 28 de maio de 2011

Porto - Igreja de S. Lourenço (Grilos)


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Construída no século XVI, mais precisamente no ano de 1577 é um dos ultimos exemplares em estilo maneirista.

A sua construção deveu-se à caridosas doações de alguns fieis e a Frei Luis Alvares de Távora de Leça do Balio que impôs a condição de nala ter de ser sepultado.

A frontaria é monumental, composta por dois andares, nela se acumulam frontões, entablamentos, cornijas, pilastras e janelas.

No primeiro, três portas com frontões, sendo a do meio ornada com um portal formado por colunas gémeas coríntias sobre pedestais e por um entablamento com pedras no friso. No alto dois nichos vasios, nos extremos duas janelas, e a meio o emblema da Companhia de Jesus, com separação feita por pilastras toscanas.

No segundo, ao centro, uma janela e por cima o brasão de Frei Luís Álvares de Távora, a rematar este bloco a Cruz de Malta sobre pedestal. De ambos os lados nichos vazios, por cima destas janelas e a rematar, frontões partidos sustentados por colunas jónicas, das quais rompem pirâmides. As partes externas pertencem às torres, cobertas com grandes volutas, com cúpulas em tijolo.

A nave é coberta por abóbada de granito, de volta perfeita em caixotões.

As paredes são sustentadas por largas pilastras toscanas, onde estão grandes imagens dos Evangelistas e dos Apóstolos, em barro pintado.

Pilastras clássicas enquadram o arco triunfal. Sobre o entablamento, de cornija muito saliente, ergue-se até à abóbada um complicado frontão, guarnecido com motivos jesuítas e flamengos, cortado a meio pelo nicho de S. Lourenço.

A capela-mor é coberta por uma abóbada também em caixotões, ocupados por cartelas guarnecidas com pedras. Nas paredes vêem-se pilastras jónicas de fuste canelado e, entre elas, estuques decorativos. Existe também nesta capela um bom painel de João Baptista Ribeiro e a imagem de St°. Inácio, única na cidade. Na sacristia, com tecto de madeira apainelada, existe um retábulo e quatro quadros emoldurados com boa talha rocócó, dos fins do século XVIII.

De referir por fim que a sua localização fica num emaranhado de ruas da Zona Histórica do Porto, nas imediações da Sé, mais precisamente no Largo do Colégio.

Porto - Paço Episcopal

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A sua edificação parece ser originária do século XIII, embora possa assentar numa construção anterior. A construção deste edificio apresenta-se divida em três andares com distinta grandiosidade.

A fachada principal é aberta por um arco pleno ladeado por pilastras e rematada por um frontão guarnecido.

Doze janelas com grades de ferro iluminam o andar inferior. No primeiro e segundo andar repete-se o mesmo número de janelas, tendo as do andar superior frontões rocócó e varandas de ferro, apoiando-se em mísulas ornamentadas.

A janela central tem uma balaustrada de pedra e no frontão, que excede o entablamento, vê-se as armas do Bispo D. Rafael de Mendonça.

As fachadas laterais apresentam igualmente janelas emolduradas com aparatosos frontões. A entrada faz-se por um amplo vestíbulo abobadado tendo ao fundo um portal de pilastras jónicas, com frontão curvo. No tímpano está o brasão do Bispo Fundador.

A escadaria é composta por três lanços, um central e dois laterais, possui parapeitos ricamente decorados.

Nas paredes laterais, as janelas apresentam frontões curvos, interrompidos a meio por urnas floridas.

Ao fundo, há três janelões, preenchidos com vitrais, em que figuram os três tipos do brasão do Porto.

A abóbada, aberta por um lanternim, é guarnecida por excelentes estuques e pinturas.

No patamar superior, existe um interessante portal com colunas jónicas. Os festões deste portal, assim como os das janelas, são um bom exemplo do trabalho de cantaria executado em granito.

Porto - Igreja de Santa Clara


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No ano de 1758 escrevia-se sobre a igreja de Santa Clara:
É a mais perfeita e asseada deste Reino, toda coberta de talha de ouro, e azul.

A Igreja do Convento de Santa Clara, é o melhor exemplo que se pode apontar numa cidade fortemente timbrada pelo fenómeno do barroco. A Arte da Talha dourada e policromada, é uma das expressões que mais a notabiliza, enfatizando dessa forma a apropriação dos princípios da Reforma Católica (Natália Marinho Ferreira-Alves).

Faz parte de um conjunto de edifícios - igrejas forradas a ouro - em que a madeira entalhada e policromada ocupa todas as superfícies parietais e coberturas do espaço sacro, provocando no crente a evasão sensorial e elevando-o a uma realidade supra-humana. O trabalho de talha da capela-mor e arco cruzeiro é a obra-prima de Miguel Francisco da Silva, arquitecto e entalhador, um dos melhores intérpretes do barroco joanino no Porto.

A fundação do Convento de Santa Clara no Porto teve lugar no dia 28 de Março de 1416, em acto processional de grande solenidade, estando ao lado do Bispo D. Fernando Guerra, o próprio rei D. João I, e os príncipes Fernando e Afonso. Colheu desde a fundação o envolvimento da realeza.
Desta primeira fase são poucos os testemunhos materiais que resistiram.

De tempos mais recentes merece referência o claustro, como construção que revela a assimilação dos princípios mais puros do maneirismo. Em 1667 tratam as monjas da construção do mirante. A transição do século XVII para o seguinte foi ainda assinalada por obras múltiplas nos dormitórios (1707-1715), portaria (com interessante portal de composição barroca) e dois coros.

A partir de 1729 inicia-se o ciclo de transformação da igreja naquilo que hoje se mantem.

O acesso à igreja faz-se lateralmente, como é regra nos conventos femininos, uma vez que do lado oposto à capela-mor se situavam os coros das religiosas. À entrada um pórtico em que se entrecruzam formas tardo-góticas e da renascença, sendo este no exterior o único elemento de algum recorte plástico, no conjunto da austeridade e singeleza revelado pela construção.

O interior é formado pela nave, capela-mor e do lado oposto, os coros alto e baixo, com as respectivas grades de clausura que separavam os contactos entre fiéis e religiosas.

Em 1729, sendo abadessa D. Isabel Visitação, promovem-se obras de pedraria na capela-mor, que visaram sobretudo, aumentar a altura dos muros e do arco triunfal tornando o espaço mais amplo e luminoso. Estas obras foram orientadas pelo arquitecto António Pereira, que na época dirigia transformação paralela na Sé do Porto. Estes mesmos princípios renovadores alastraram em 1732 à nave, demarcando-se a nova altura a partir das tribunas. Uma vez mais a preocupação da luz com a abertura de lunetas por cima das tribunas. Em planta, a igreja mantinha a forma anterior.

A principal transformação foi conseguida não pela arquitectura mas pelo efeito cenográfico da talha e é nesta arte que as monjas polarizam o seu interesse, tornando-se a arquitectura anulada pelo efeito das formas reluzentes do cromatismo da talha e da imaginária que cobrem todas as estruturas interiores.

Em 1730 a obra de talha da capela-mor e arco cruzeiro foi arrematada por Miguel Francisco da Silva. Um programa complexo sob o ponto de vista formal e iconográfico, sendo a banqueta e o sacrário posteriores. O resultado alcançado fazem do artista um vulto maior do barroco portuense, e da igreja conventual de Santa Clara uma das jóias da arte barroca portuguesa, quer pela qualidade estética quer pela coerência de todo o conjunto.

texto-Manuel Joaquim Moreira da Rocha
Dep.Ciências e Técnicas do Património
Faculdade de Letras-Porto