sábado, 31 de março de 2012

Porto - Igreja de S. Lourenço (2) - Museu de Arte Sacra e Arqueologia


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"A Igreja e Colégio de S. Lourenço, vulgarmente designada por Igreja dos Grilos, devido ao facto de ter pertencido aos Frades Grilos da Ordem de Santo Agostinho, situa-se na freguesia portuense da Sé, em espaço próximo do Paço Episcopal.
Quando a Companhia de Jesus procurou instalar-se na cidade do Porto, os seus membros ficaram no Hospício de Santa Clara à Rua dos Mercadores, mudando depois para a casa de Henrique Nunes Gouveia, sita na Rua da Lada. Para tanto o espaço foi adotado às funções académicas e de liturgia.
No entanto, a área era restrita e em dia de S. Lourenço do ano de 1570, os jesuítas lançaram a primeira pedra da sua igreja e colégio nas imediações do Paço Episcopal, não sem antes enfrentarem forte oposição camarária e da população portuense. Ainda antes de terminarem as obras, os jesuítas mudaram-se para as novas instalações do Colégio de S. Lourenço. Persistentes e persuasores, estes vencem finalmente a oposição e abrem-no à comunidade em 1630, não cobrando qualquer propina pela sua frequência, o que conduziu ao sucesso dos seus diversos cursos.
Pesadas sombras abateram-se sobre os jesuítas na época do Marquês de Pombal, com este último a assinar a expulsão desta companhia do território nacional, em 1759. Ato contínuo, a igreja e o colégio ficaram na posse da Universidade de Coimbra; posteriormente, esta instituição vendeu os edifícios aos Agostinhos Descalços, os frades grilos. Estes últimos permaneceram aqui entre 1780 e 1832, ano em que o "batalhão académico" ocupou as instalações durante o Cerco do Porto. Após este belicoso episódio, o colégio ficou arruinado e foi espoliado de muitos dos seus bens mais preciosos, escapando às destruições a antiga e austera igreja jesuítica.Nas instalações do Colégio de S. Lourenço está sediado o Seminário Maior de N. Sra. da Conceição, encontrando-se igualmente instalado, desde 1958, o Museu de Arte Sacra D. Domingos de Pinho Brandão.
A denominada Igreja dos Grilos foi construída em 1577, sendo o seu arquiteto inicial Afonso Álvares. Posteriormente, Baltazar Álvares conduz os trabalhos e altera os planos de Afonso Álvares. Os custos do empreendimento foram suportados pelas esmolas dos crentes e pelas generosas dádivas do bailio de Leça, Frei Luís Álvares de Távora.
Seguindo o esquema das igrejas jesuíticas, a frontaria de S. Lourenço compreende dois andares repartidos em cinco corpos delimitados por pilastras. A porta principal é constituída por duas colunas assentes em pedestais, sobrepujado por frontão curvo interrompido, tendo ao centro heráldica jesuítica. Lateralmente abrem-se duas outras portas com frontões triangulares, de menores dimensões.
No meio do piso intermédio abre-se uma grande janela encimada por brasão do patrocinador da obra, Frei Luís de Távora, bem assim como da cruz de Malta.
No último andar rasgam-se janelas com frontões interrompidos, assentes em pilastras jónicas, com remates piramidais. A empena central apresenta frontão curvo rematado por cruz latina. Lateralmente erguem-se as sinuosas torres sineiras cobertas por cúpulas.
O interior desenvolve-se numa só nave coberta por abóbada granítica de caixotões, sustentadas por paredes robustas ritmadas por pilastras e nichos cavados, ostentando esculturas pintadas em barro e alusivas a diversas figuras hagiográficas.
O transepto apresenta cobertura em abóbada de berço ostentando o emblema jesuítico. Possui duas capelas e dois altares colaterais. A Capela de N. Sra. da Purificação contém um monumental retábulo de quatro andares preenchido com relicários e numerosas imagens de santos, obra barroca executada entre 1729 e 1733 pelos entalhadores Francisco Pereira de Castro e António Pereira, bem assim como pelo dourador Pedro da Silva Lisboa. Dos dois altares colaterais o destaque vai para o do "Coração de Jesus", com um painel do pintor Marques de Oliveira executado em 1882.
A capela-mor apresenta uma abóbada de berço com caixotões esquartelados. O seu retábulo é uma obra neoclássica e contém uma pintura de João Batista Ribeiro alusiva ao tema de Jesus Cristo inflamando o Coração de Santo Agostinho, possuindo ainda uma escultura de Santo Inácio de Loyola. Numa das paredes abre-se um arco que alberga a arca sepulcral de Frei Luís Álvares de Távora.A sacristia é forrada com painéis de azulejos historiados, datados de Setecentos e em tonalidades de azul e branco. "

Porto - Sé Catedral - Claustros e Museu


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"O monumento mais antigo e catedral portuense, a Sé, provém do século XII após a eleição do Bispo D. Hugo, Arcediago da Sé de Compostela. Foi a este que em 1120 a rainha Dª Teresa doou o burgo portucalense e o seu respectivo couto de onde proveio a dita catedral.

D. Hugo é além de restaurador desta mui nobre cidade, o mentor deste honroso património que a Comissão mundial denominou de Património Mundial.

A Sé portuense, de origem românica fica situada no monte da Penaventosa, também chamado de Terreiro da Sé.

Conta-se que a primeira pedra foi assente pela rainha Dª Teresa viuva do conde D. Henrique, só vindo a ser concluída já no reinado de D. Dinis.

A sua decoração primitiva foi baseada na Sé velha de Coimbra. No entanto com o passar dos tempos esta catedral sofreu diversas alterações que lhe apagaram os traços primitivos.

Anos mais tarde o artista fiorentino Nicolau Nasoni barroquisou-a desenhando-lhe as pinturas murais da capela-mor e construindo-lhe a galilé (parte alpendrada e sustentada por colunas).

A fachada principal é enquadrada por duas torres. O portal, agora em estilo rococó, substituiu o primitivo em estilo românico destruído em 1722.

A sua construção é sustentada por colunas encimadas por um frontão, tendo a meio um varandim com pequenas colunas.

Na parte superior a rosácea encontra-se uma sinecura com a imagem de Nossa Senhora da Assunção, padroeira da catedral, pertencente ao século XVIII.

Esta rosácea, datada do século XIII, foi sempre conservada. Tem a sustentar-lhe os raios arcos tribolados e a envolve-la folhas de figueira.

Há duas cruzes a rematar a construção, uma em estilo românico e a outra em estilo gótico.

Este templo está dividido em três naves, sendo a central de maior altura que as colaterais.

As naves estão cobertas por abobadas ogivadas e os arcos assentam em pilastras dispostas em feixes, toda a decoração é fitomórfica (motivos vegetais), iluminada pela esplendorosa rosácea e pelas frestas altas do clerestório do transcepto a luz penetra nas naves central e colaterais numa conjunção harmoniosamente celestial.

A capela-mor é da autoria do Frei Gonçalo de Morais e data dos princípios do século XVII. Esta capela-mor de estilo clássico é toda decorada a mármore, possui dois órgãos, duas magnificas tribunas e admiráveis ornamentos em madeira com belas esculturas.

As grades do coro são em bronze artisticamente trabalhadas e a grade que separa a capela-mor do corpo da igreja tem um corrimão em mármore preta.

A pia baptismal é igualmente de mármore e reside sobre um pedestal em jeste branco e mármore roxo.

Fixas nas penúltimas pilastras encontramos algumas pias de água benta em mármore talhadas em forma de concha.

Nas partes laterais do templo deparamos com diversas capelas, entre as quais figuram a do Santíssimo Sacramento ornamentada com um retábulo em prata e um ilustre sacrário envolto em apainelados que relatam passagens da sagrada escritura gravado em baixo-relevo.

Nesta área do templo podemos ainda admirar as capelas de S. João Evangelista, S. Pedro e S. Vicente todas em estilo gótico.

Anexo ao edifício da Sé está colocado o túmulo de João Gordo.

João Gordo foi cavaleiro da Ordem de S. João de Malta e almoxarife de D. Dinis, antes da sua morte, em 1333, mandou esculpir o túmulo onde viriam a descansar os seus restos mortais.

O citado túmulo construído em calcário de portunhos (pedra da Batalha) assenta no dorso de quatro leões e um arco em ogiva encimado por uma cornija com cães lavrados. As faces do túmulo em alto relevo representam a ultima ceia, o calvário e a coroação de Nossa Senhora.

Continuando a viagem podemos encontrar na parte sul do templo o claustro gótico, pertencente aos meados do século XIV-XV. A sua configuração é abobadada com nervuras assentes em colunas fasciculadas.

Os capiteis estão revestidos por um único motivo vegetal.

A sacristia também em estilo gótico, situada na testeira do braço direito do transcepto com chão de mármore é abobadada em ogiva e dividida por grossos arcos de faces vivas sustentados por consolas em granito embutidos no muro.

O seu interior é refinadamente decorado com móveis de valor inestimável, mesas e lavatórios em mármores raros, as guarnições do espelhos, os armários e o relógio em estilo rococó são feitos de pau preto."

Texto em PortoXXI

Porto - Misericórdia - Igreja e Museu


"Inicialmente, a Confraria de Nossa Senhora da Misericórdia instalou-se na capela de S. Tiago, no claustro velho da Sé do Porto no entanto em 1555, atendendo à beleza da Rua das Flores, aberta por D. Manuel alguns anos antes, mudaram para lá a Casa do Despacho, iniciando nesse mesmo ano a construção da sua igreja, que seria benzida em 13 de Dezembro de 1559.

Deve acrescentar-se que a existência desta igreja e confraria se deveu à constituição da Santa Casa da Misericórdia do Porto em 1502, constituída na sequência duma carta que D. Manuel I escreveu, em 1499, «aos juizes, vereadores, procurador, fidalgos, cavaleiros e homens bons» da cidade, na qual lhes recomendava a criação duma confraria semelhante à de Lisboa, instituída no ano anterior.

A igreja foi benzida ainda incompleta pois a construção da capela-mor data de 1584, recebendo o Santíssimo em 1590.

A igreja foi reedificada em 1748, sendo reforçadas as paredes, construídos abóbadas novas e uma nova fachada, desenhada por Nicolau Nasoni em estilo «barroco luxurioso do sul de Itália, já dominado pelas formas do rococó». Da antiga igreja preservou-se apenas a capela-mor.

"A fachada assenta sobre três arcadas que abrem o andar inferior, apoiadas em altos pedestais. O arco central, porta de entrada para o vestíbulo, é rematado por uma cartela com uma legenda bíblica e a data de 1750, sendo esta zona central fechada com um frontão circular partido e profusamente decorado; os laterais são rematados por conchas. O segundo piso, assente no entablamento divisório, termina também num frontão circular, partido, luxuriantemente decorado; compõem o conjunto três janelões de recorte ondulado (de maiores dimensões o central), encimados por frontões ricamente decorados. Remata a fachada um grande frontão, com o emblema da Misericórdia e a coroa real, e sobre a cornija encurvada erguem-se quatro fogaréus e, no topo, uma cruz de pedra trabalhada. "

"O interior da igreja é de uma só nave com abóbada de tijolo recoberto de estuques e as paredes estão revestidos de azulejos azuis e brancos, que substituíram, em 1866, os primitivos. A capela-mor é coberta por uma abóbada barroco-jesuítica decorada, em granito, e as paredes, também em granito bem trabalhado, dividem-se em dois frisos: o superior decorado com colunas coríntias e janelas com grades de ferro dourado (do século XIX); no inferior, com colunas jónicas, abrem-se vários nichos com imagens dos evangelistas do século XVI, em madeira, mas pintadas em 1888, a imitar mármore. A decoração interior tem alguns aspectos valiosos, nomeadamente a sanefa de talha neoclássica do arco cruzeiro, onde figuram as armas reais e a imagem de Nossa Senhora da Misericórdia. De algum valor artístico são ainda as capelas e os altares laterais, com painéis e imagens valiosos, o coro, assente num belo arco abatido e recortado e o guarda-vento com vistosa talha rococó. "

No claustro, em cuja galeria figuram retratos de vários pintores portugueses, há uma lápide comemorativa do antigo hospital de D. Lopo, reminiscência do primitivo hospital fundado com o legado de D. Lopo de Almeida, uma obra de assistência que a Misericórdia sempre assumiu como um dos seus mais firmes compromissos e a levou a construir, em 1769, o Hospital de Santo António, para substituir os exíguos e mesquinhos hospitais que então possuía e administrava. Relembre-se pois, que a Misericórdia portuense é o maior senhorio privado do Porto e um dos maiores do País. O Estado é um dos seus muitos locatários, tendo arrendados os hospitais de Santo António e do Conde Ferreira, as escolas secundárias de lrene Lisboa e Carlos Cal Brandão e as esquadras da PSP do Amial e do Pinheiro Manso.

O tesouro da Santa Casa, conservado no seu Arquivo Histórico (com documentação e códices valiosos) e no Museu (em constituição), é igualmente de grande riqueza, com destaque para várias peças de ourivesaria e excelentes pinturas, em que sobressai o célebre quadro «Fons Vitae», um óleo em madeira, obra-prima do gótico final, de autor desconhecido, mas dos princípios do século XVI, oferecido à Misericórdia por D. Manuel I e que serviu de retábulo na primitiva capela de S. Tiago e se conserva agora na magnífica Sala das Sessões da Santa Casa. "

Texto em PortoXXI